Trabalhadores metalúrgicos, marítimos e petroleiros pediram, durante ato do Fórum pela Retomada da Indústria Naval e Offshore realizado nesta sexta-feira (15), no Centro do Rio de Janeiro, mudanças no comportamento de gestores da Petrobras que têm afretado somente embarcações construídas e operadas por empresas de outros países.
A política adotada contraria a Lei 9.478/1997 (Lei do Petróleo) – a qual diz que as atividades de construção e operação de embarcações para o transporte de petróleo e seus derivados devem ser desempenhadas por sua subsidiária. A Transpetro foi fundada um ano depois para este fim, mas tais gestores desconsideram o ordenamento jurídico do Brasil sem nenhum pudor.
Tal comportamento causa danos à soberania nacional, impedindo um crescimento mais significativo da nossa indústria naval e impossibilitando a geração de empregos para brasileiros.
A Petrobras é, hoje, a maior afretadora mundial de navios do tipo MR – usados no transporte de produtos refinados. Eles fazem a distribuição de gasolina, diesel e querosene de aviação ao longo da costa brasileira e, eventualmente, em rios. A sua frota é composta por 54 embarcações que mantêm o País abastecido, mas destas, apenas quatro são brasileiras.
“O Brasil é dependente de outras nações que compreendem a importância da navegação para a segurança energética e alimentar. Não há segurança energética, nem segurança alimentar, nem mesmo segurança logística quando um país não tem navios próprios. E é nesse caminho que, infelizmente, o Brasil tem seguido, especialmente a Petrobras”, declarou o presidente da Conttmaf, Carlos Müller.
Para ele, não é concebível o governo deixar a Petrobras ser conduzida por gente que não enxerga a grandeza da empresa e a importância dela para a nação. Na visão do dirigente sindical, a maior companhia do País deveria receber o tratamento e o respeito que merece.
“Ela transporta, hoje, 70% de todas as cargas que navegam em águas brasileiras. Os outros 30% são contêineres para soja, minério de ferro (…). A Petrobras contribuiu para gerar emprego na China, na Coreia do Sul, na Índia, em países europeus que dominam tecnologia importante na área marítima, mas nós somos brasileiros, nós queremos que a maior empresa do Brasil crie empregos aqui no nosso País. E é por isso que estamos nesse ato unificado” – Carlos Müller (Presidente da Conttmaf e do Sindmar).
Veja trechos dos pronunciamentos de sindicalistas que fazem parte do Fórum pela Retomada da Indústria Naval e Offshore e de parlamentares que levantam esta bandeira:
“Eu lembro, por volta de 2008, de 2009, quando visitei o Estaleiro Enseada, na Bahia, e o canteiro de obras de São Roque de Paraguaçu, na cidade de Maragogipe, oriunda ali do recôncavo baiano. Eu fui ver a entrega, lá, da P-59 e da P-60 – duas sondas de perfuração que foram construídas ali (…). Foram gerados, somente naquela região, sete mil empregos diretos com um impacto gigantesco, positivo, para todo o recôncavo baiano” – Deyvid Bacelar (Coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros).
“O que nós, metalúrgicos, estamos querendo, é emprego. Nós queremos voltar à nossa dignidade, estaleiros brasileiros abertos (…). E quando a gente fala em indústria naval, a gente está falando não só de quem tripula, não só de quem constrói navio, mas a gente fala, em princípio, dos bairros onde os estaleiros estão colocados, porque ali fecharam padarias, bares, lojinhas de material de segurança e outras coisas mais. Por isso, a nossa cadeia produtiva é tão expressiva” – Edson Rocha (Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói/RJ).
“Se a Petrobras é nossa, o petróleo também é nosso! Se a gente precisa transportar o petróleo da Petrobras, é necessário que nós também possamos ter os nossos navios. Se a opção é entregar as uvas para a raposa tomar conta, a resultante disso é que nós, por mais esforço que a gente venha a fazer, a nossa indústria vai seguir cambaleando” – Adilson Araújo (Presidente da CTB).
“Esse é o nosso lugar, na rua, organizados, mobilizados, empunhando a nossa bandeira e reivindicando aquilo que a gente sabe que o presidente Lula se comprometeu com todo o povo brasileiro, de colocar a Petrobras como uma empresa estratégica para o desenvolvimento do nosso País. A Petrobras é uma empresa do povo brasileiro, que tem que estar subordinada à lógica do desenvolvimento nacional” – Verônica Lima (Deputada estadual e presidente da Frente Parlamentar de Acompanhamento do Polo GasLub em Defesa dos Empregos dos Setores do Petróleo e Gás e da Indústria Naval na Alerj).
“(…) Nesse momento, com a autoridade de quem sempre defendeu essa empresa, eu também me sinto no dever de cobrar dela posições em relação a questões estratégicas e é isso o que nós estamos fazendo aqui, hoje. Não é possível que uma empresa com “Bras” no final, que tem a defesa de todos nós aqui, continue tendo como prioridade o afretamento de embarcações construídas lá fora” – Jandira Feghali (Deputada federal e vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval Brasileira no Congresso).