Muito se fala no glamour dos cruzeiros marítimos, mas os problemas que essa atividade causa, por falta de adequada regulamentação, começa a chamar a atenção de entidades ligadas à navegação em várias partes do mundo. A Representação Sindical Marítima, capitaneada pela CONTTMAF, há anos alerta para a necessidade premente de regulamentação para a atividade. Nessa semana o assunto voltou a ganhar destaque, já que nos Estados Unidos, a agência marítima nacional (a Marad), chegou à conclusão de que os cruzeiros são uma atividade marginal, no sentido que não geram empregos e não contribuem para o desenvolvimento do turismo e do comércio interno, além de utilizar navios construídos em outros países, em detrimento da indústria norte-americana.
As conclusões levaram a Marad a proibir o financiamento público de operações relacionadas aos cruzeiros marítimos, sob o argumento de que, se não geram benefícios diretos para a economia americana, e ainda representam uma concorrência desleal para empresas locais, não há qualquer razão para manter o apoio à atividade.
Segundo matéria divulgada pela assessoria do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante, que é filiado à Confederação, e repercutida em outros veículos de imprensa, calcula-se que a “indústria dos cruzeiros” transportou 72 milhões de passageiros nos Estados Unidos (a maioria de americanos) em 2011, com lucro de US$ 40 bilhões. Esses recursos, no entanto, não tiveram impacto positivo no recolhimento de tributos, na geração de empregos para cidadãos norte-americanos ou para a indústria naval daquele país. Os passageiros consomem a bordo, o que implica perda de mercado para o comércio local.
Como ocorre no Brasil, os cruzeiros pertencem em sua maioria a empresas européias, que geralmente empregam tripulantes de países asiáticos, como as Filipinas, onde a mão de obra é mais barata. Embora os cruzeiros se beneficiem da economia (consumidores locais) dos países que visitam, não recolhem tributos, o que gera fuga de divisas.
Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, o problema não é apenas econômico. Para o Sindmar, o fato de os cruzeiros operam sem regulação ou regulamentação, potencializa o desrespeito às regras de navegação e às normas ambientais e sanitárias. Assim, problemas como despejo de dejetos por esses navios em águas costeiras de balneários famosos, como Angra e Búzios, no Estado do Rio de Janeiro, têm sido freqüentes. Os problemas sanitários têm causado frequentes intoxicações a bordo a cada temporada, conforme noticia a imprensa, inclusive com mortes de passageiros.
Outra questão apontada pela Representação Sindical Marítima é o despreparo das tripulações para lidar com emergências, o que ficou patente na recente colisão seguida de naufrágio do Costa Concórdia, no Mediterrâneo.