A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos, na Pesca e nos Portos (Conttmaf), participou, juntamente com outras entidades, lideranças sindicais e parlamentares, do seminário “Eleições 2022 e a retomada da indústria naval do estado do Rio de Janeiro – Perspectivas e realidade”, promovido pelo Sindimetal-Rio nesta sexta-feira, dia 22.
Após apresentações técnicas da visão patronal sobre o setor, que ficaram a cargo do engenheiro Carlos Filipe Rizzo e do vice-presidente do Sinaval, Sérgio Bacci, o presidente da Conttmaf e do Sindmar, Carlos Müller, fez a sua intervenção, lembrando que a marinha mercante e a construção naval, onde elas existem no mundo de forma significativa, é porque há decisão política nesse sentido.
Segundo ele, os países que se destacam hoje, construindo navios e usando essas embarcações no comércio internacional, são os que mais fomentam e estimulam o setor. O que os torna competitivos internacionalmente são os subsídios diretos e indiretos que praticam para poderem contar com uma marinha mercante que atenda aos interesses do Estado e da sociedade local.
Müller recordou, ainda, o caso dos navios Valemax, projeto de uma empresa brasileira, líder mundial, desenvolvido para exportar o minério da Vale para a China e cujos diferenciais competitivos logo foram capturados pelo país asiático, numa demonstração da China de que a marinha mercante por lá é tratada como questão estratégica.
“A China percebeu que, dependendo da situação que se configurasse internacionalmente, o custo do frete poderia ter valor significativo em relação à carga transportada e quando os navios da Vale chegaram lá, foi imposta uma restrição. As embarcações foram proibidas de entrar naquele país e esse banimento durou 7 anos. Para resolver o imbróglio, a empresa teve de vender os 10 Valemax que haviam sido construídos para armadores chineses e na sequência, os asiáticos construíram mais de 20”, afirmou.
Para o dirigente sindical, a China nos deu uma lição, mas o Brasil insiste em não compreender as vantagens de se estimular a construção naval e a marinha mercante. Hoje vendemos o minério brasileiro, mas somos obrigados a “comprar” o frete chinês.
“O minério do Brasil chega lá, hoje, nas condições e fretes estipulados pelos chineses. Eles garantem que o minério que será usado para fazer o aço para a construção naval chegue ao país de forma regular e têm amplas possibilidades de interferir no preço final da commoditie, pois controlam o transporte.
Müller também destacou o caso dos Estados Unidos, um país sempre lembrado como exemplo de liberalismo econômico, mas que não abre mão do controle de sua cabotagem, tendo hoje um dos mais elevados níveis de protecionismo à marinha mercante e à construção naval em todo o mundo. Para operar em sua costa, a embarcação necessita ser construída em estaleiro local e utilizar aço produzido em território norte-americano. Além disso, o controlador da empresa de navegação e os tripulantes empregados nos navios precisam ser residentes no país. Apesar de o custo ser maior, os EUA sabem que este é o preço a ser pago para que a sua economia continue funcionando ordenadamente e não se torne dependente de outros países.
Jesus Cardoso, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, defende o envolvimento de todos na luta pelo desenvolvimento destes setores no estado do Rio e no País.
“Precisamos convencer Brasília, governo do Rio e congressistas sobre a importância da construção naval e da marinha mercante para o estado que sempre foi o farol do País nesse contexto. A gente não pode perder esse foco, porque, mais uma vez, ficou provado que sem esse setor, o Rio de Janeiro, praticamente, definha. Ele alavanca outros setores. Então, precisamos ter a união tanto dos metalúrgicos quanto dos marítimos, assim como dos parlamentares, em prol dessa causa”, declarou Cardoso.
A deputada federal Jandira Feghali, grande defensora dos trabalhadores da marinha mercante nos debates em que participou ao longo dos anos, ressaltou a importância da união dos sindicatos para a luta em defesa dos direitos de seus representados e representadas. “Esse debate da indústria naval sempre tem que estar acoplado ao da marinha mercante brasileira. Porque é muito difícil debater uma luta sem defender a outra”, observou.
O Presidente da Alerj, deputado estadual André Ceciliano, reforçou o entendimento dos componentes da mesa diretora do seminário, de que a marinha mercante e a construção naval necessitam ser tratadas como questão de Estado devido à sua importância para a soberania do país, e propôs uma audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para discutir estratégias para o seu desenvolvimento, considerando a vocação natural do Rio para liderar esse setor, o que obviamente necessita ser trabalhado posteriormente em Brasília para poder alcançar efetividade como política nacional, no que se mostrou comprometido em contribuir.
Além de Carlos Müller, Jesus Cardoso, Jandira Feghali, André Ceciliano, Filipe Rizzo e Sérgio Bacci, contribuíram com o debate Paulo Sérgio Farias (Presidente da CTB-RJ) e Raimunda Leone (Vice-presidenta da Fitmetal).
Assista à transmissão do seminário “Eleições 2022 e a retomada da indústria naval do estado do Rio de Janeiro – Perspectivas e realidade” na página da CTB-RJ no Facebook.