O Sindmar denunciou à Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental uma situação absurda de exploração trabalhista a bordo do navio petroleiro ANFA, de bandeira das Ilhas Marshall, afretado pela Petrobras, e que se encontra em viagem com destino aos portos de Itacoatiara e Manaus (AM).
A delegacia do Sindmar em Belém tomou conhecimento de que a embarcação estaria sob rígido esquema de racionamento de água desde o último dia 24 de novembro, tanto para a manutenção da higiene a bordo quanto para o consumo da tripulação.
Outra reclamação dos marítimos é a negligência do armador contratado pela Petrobras com o provisionamento de rancho e hortifrutigranjeiros ao longo do mês. O pouco que há a bordo está vencido, e a falta até de itens básicos como pão, queijo, leite, frutas e água mineral tem forçado os tripulantes a comprarem os próprios alimentos.
O cenário é inaceitável e representa exploração dos trabalhadores visando aumentar o lucro do armador e da própria Petrobras mediante prática de condições desumanas.
“A situação é tão absurda que, segundo as informações relatadas à representação sindical, o fornecimento de água mineral para o pessoal da seção de Máquinas se restringe a nove litros por dia para 11 pessoas – menos de um litro para cada uma – sem considerar o fato de que elas trabalham em um ambiente que pode alcançar uma temperatura que passa dos 40ºC”, observa Darlei Pinheiro, delegado do Sindmar em Belém.
A situação crítica é causada pela ganância patronal ao se recusar a abastecer o navio com água no porto, já que o destilador do navio estaria fora de operação há dias.
Sem outra opção, os trabalhadores são obrigados a beber água imprópria para consumo e com riscos para a sua saúde. Há relatos de casos de disenteria e alergia durante o embarque, que possivelmente não estão sendo comunicados à Anvisa.
Há menos de 30 dias, após denúncia da delegacia do Sindmar em Fortaleza sobre outro caso de navio pirata a serviço da Petrobras, a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro decretou a detenção do petroleiro Horizon Aphrodite. O navio nem mesmo cumpria com o quantitativo mínimo de marítimos brasileiros exigidos a bordo.
Rinaldo Medeiros, delegado do Sindmar, considera essencial que os marítimos denunciem aos seus sindicatos essas situações de abuso para ajudar a combatê-las com efetividade.
O presidente do Sindmar, Carlos Müller, avalia que entre os mais de cem navios estrangeiros que a Petrobras opera no Brasil, haja outros em situação lastimável. Isso ocorre porque a atual diretoria de logística e comercialização da estatal age com motivação equivocada, buscando aumentar o afretamento deste tipo de embarcação em águas brasileiras, o que deixa o País dependente de outras bandeiras e os trabalhadores expostos a situações absurdas como esta.
Para a representação sindical marítima, é necessário mudar essa lógica na administração da Petrobras, incentivando a aquisição de navios de bandeira brasileira que empreguem trabalhadores nacionais em condições dignas, com salários justos e direitos garantidos.
Veja imagens das irregularidades no navio ANFA: